_Todas suas perguntas serão
respondidas a seu tempo, Alan._ Respondeu Sebastião como que lendo meus
pensamentos.
_Me responda só uma pergunta: Como
você sabe meu nome, andou me investigando? Já sei, você trabalha para meu irmão
Lucas, não é? Foi ele quem te mandou atrás de mim. Agora lembro que você acenou
pra mim antes de eu pular!
_Não, eu não sou enviado de Lucas e
nem estava te investigando. Estava te esperando aqui mesmo, vê? Você está em
minha casa, você veio até mim.
_Mas como?
_Tudo a seu tempo, Alan, tudo a seu
tempo. Quanto a seu nome, nossa conexão vem desde outras vidas. E eu venho
acompanhando você à distância desde seu nascimento. Por isso você tinha essas
visões. Sua mente interpretava minha presença como a imagem do índio que fui
quando éramos amigos. Você nasceu pronto, só precisa de uma orientação para se
lembrar.
_Você é médium, vidente, telepata ou
coisa do tipo?
_Coisa do tipo._ Um sorriso sarcástico
escapou-lhe pelo canto da boca.
_Fiquei ainda mais confuso._ Nesse
instante um pensamento passou pela minha cabeça. No momento do acidente, a
visão do índio me fez desviar do caminho, tenho quase certeza. Sendo assim,
teria sido ele, e não eu, o responsável pela morte de minha família? Uma fúria
começou a crescer dentro de mim e cerrei os punhos.
_Calma, Alan, isso que você está
pensando não é a verdade.
_Como você sabe o que eu tô pensando?
_Sei que você está ligando o acidente
às visões e está projetando em mim a culpa que carrega.
_Acho que estou começando a descobrir
a verdade, não é?
_Não, não está. Aquele acidente iria
acontecer independente de visão. Eu estava acompanhando você naquele momento
crucial de sua vida, por isso você “me viu”. Mas o acidente aconteceria de
qualquer maneira.
_Mentira!_ Levantei da cama e parti
para cima dele. No momento que armava o soco fui surpreendido com um leve toque
na testa que me apagou instantaneamente. Acordei umas duas horas depois sem
saber o que aconteceu.
_Tá mais calmo agora?_ Perguntou
Sebastião na porta do quarto.
_Cara, o que foi que você fez comigo?
_Você precisa pensar mais sobre suas
conclusões. Não vê a insanidade que é projetar a culpa de um ACIDENTE a
qualquer pessoa? Será tão difícil assim admitir que não foi culpa de ninguém?!
Em uma reflexão mais aprofundada da situação, não existe acidente, na verdade.
No seu caso específico, houve um acordo entre vocês para que as coisas
acontecessem da forma como aconteceram.
_Como você conseguiu me derrubar só
tocando minha testa?!
_É impressionante como as pessoas
focam em coisas tão banais e esquecem de ver o panorama completo... você ouviu
o que eu acabei de te dizer?
_Não, não ouvi nada. Ainda tô tentando
entender o que tá acontecendo. Você é algum tipo de feiticeiro?
_O pouco que você me viu fazer,
qualquer um é capaz de fazer. Você está aqui para relembrar quem é. Como
consequência disso, você também irá parecer um “feiticeiro” aos olhos das
outras pessoas. Por hora, quero que você entenda que não houve culpados no que
aconteceu com os seus. Aceite isso e sigamos em frente. Temos muito trabalho
a fazer._ Terminando de falar isso, Sebastião saiu do quarto e foi até a
cozinha pegar uma xícara de café. Ainda no quarto pude vê-lo servindo-se e me
olhando convidativamente. Levantei e me juntei a ele na mesa quadrada de
madeira, bem rústica. Ele me serviu uma xícara e ofereceu um bolo de tapioca.
Na mesa também tinha umas frutas, algumas não pude identificar de imediato, mas
eram grandes e vistosas.
_Isso aqui é sapoti_ me mostrou
Sebastião segurando uma das frutas. _ Aquela outra ali é ata, também chamada de
fruta do conde. São todas aqui do meu quintal. Eu mesmo plantei e cuido.
Dei uma espiada pela janelinha de
madeira que tinha na cozinha e pude ver uma horta repleta de legumes, verduras
e frutas. Todas muito grandes e bonitas.
_Nossa, você leva jeito pra coisa,
hein!
_Não é questão de jeito, é questão de
aceitar a realidade e viver de acordo com ela.
_Como assim realidade? O que a
realidade tem a ver com planta?_A forma como a pergunta saiu me fez rir.
Percebi que desde o acidente essa era a primeira vez que sorria.
_Aceitar que somos cocriadores da
realidade. E como tal, moldo a minha realidade de acordo com essa verdade. E na
minha realidade, a minha horta é fértil e me dá os frutos e o alimento que
necessito.
_Impressionante! Isso que você me
falou soou como algumas coisas que estudei na física quântica. Mas nunca imaginei
que a coisa pudesse ser aplicada de maneira tão prática.
_A física terrestre está raspando a
superfície desta verdade universal. Tenho a esperança de que, num futuro próximo, essa verdade seja lugar comum entre todos.
_Engraçado como você fala. Não parece
ser como alguém daqui. Apesar de seu biotipo ser exatamente como o de qualquer
ribeirinho que já cruzei. Onde você foi educado, como aprendeu essas coisas?
_Sou nascido e criado aqui mesmo no
norte. Sou de outra cidadezinha aqui do Amazonas, vim pra cá porque era aqui
que eu deveria estar agora. Como aprendi o que sei?! Apesar de ter estudado em
Manaus, aprendi o que realmente importa diretamente da fonte de tudo o que é.
_Deus?! Corta essa!
_Deus é como as pessoas costumam
chamá-lo. Todos nós somos Ele, em essência! Alguns dizem que temos a centelha
divina. Acredito que isso esteja próximo da verdade. Mas o fato é que ele está
em nós assim como estamos nele. Sendo assim, o conhecimento dele pode ser
acessado por nós e nossas experiências são acessadas por ele, é uma via de mão
dupla.
_Se é assim, por que eu não tenho
acesso a este conhecimento?
_Ah, meu amigo, essa é a questão
fundamental. A resposta a sua pergunta sintetiza a razão e o propósito de ambos
estarmos aqui juntos. Você está aqui para lembrar como acessar esse
conhecimento e, a partir daí, cumprir sua sina.
_Você sempre fala em lembrar... isso
significa que, em algum momento da vida eu sabia fazer isso?
_Sim. Nesta vida não, mas em outra,
bem lá atrás, quando eu e você explorávamos juntos este planeta e nos
maravilhamos com suas belezas.
_Preciso tomar um ar, isso é demais
pra minha cabeça._ Saí da cozinha ainda comendo uma ata. Não tinha apreciado o
gosto do sapoti. Antes de experimentar a ata, já tinha comido a tapioca e uma
manga. Fazia tempos que não comia tanto.
Trecho do meu livro Transcendente - O Despertar