quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Diálogo sobre a realidade

_Todas suas perguntas serão respondidas a seu tempo, Alan._ Respondeu Sebastião como que lendo meus pensamentos.
_Me responda só uma pergunta: Como você sabe meu nome, andou me investigando? Já sei, você trabalha para meu irmão Lucas, não é? Foi ele quem te mandou atrás de mim. Agora lembro que você acenou pra mim antes de eu pular!
_Não, eu não sou enviado de Lucas e nem estava te investigando. Estava te esperando aqui mesmo, vê? Você está em minha casa, você veio até mim.
_Mas como?
_Tudo a seu tempo, Alan, tudo a seu tempo. Quanto a seu nome, nossa conexão vem desde outras vidas. E eu venho acompanhando você à distância desde seu nascimento. Por isso você tinha essas visões. Sua mente interpretava minha presença como a imagem do índio que fui quando éramos amigos. Você nasceu pronto, só precisa de uma orientação para se lembrar.
_Você é médium, vidente, telepata ou coisa do tipo?
_Coisa do tipo._ Um sorriso sarcástico escapou-lhe pelo canto da boca.
_Fiquei ainda mais confuso._ Nesse instante um pensamento passou pela minha cabeça. No momento do acidente, a visão do índio me fez desviar do caminho, tenho quase certeza. Sendo assim, teria sido ele, e não eu, o responsável pela morte de minha família? Uma fúria começou a crescer dentro de mim e cerrei os punhos.
_Calma, Alan, isso que você está pensando não é a verdade.
_Como você sabe o que eu tô pensando?
_Sei que você está ligando o acidente às visões e está projetando em mim a culpa que carrega.
_Acho que estou começando a descobrir a verdade, não é?
_Não, não está. Aquele acidente iria acontecer independente de visão. Eu estava acompanhando você naquele momento crucial de sua vida, por isso você “me viu”. Mas o acidente aconteceria de qualquer maneira.
_Mentira!_ Levantei da cama e parti para cima dele. No momento que armava o soco fui surpreendido com um leve toque na testa que me apagou instantaneamente. Acordei umas duas horas depois sem saber o que aconteceu.
_Tá mais calmo agora?_ Perguntou Sebastião na porta do quarto.
_Cara, o que foi que você fez comigo?
_Você precisa pensar mais sobre suas conclusões. Não vê a insanidade que é projetar a culpa de um ACIDENTE a qualquer pessoa? Será tão difícil assim admitir que não foi culpa de ninguém?! Em uma reflexão mais aprofundada da situação, não existe acidente, na verdade. No seu caso específico, houve um acordo entre vocês para que as coisas acontecessem da forma como aconteceram.
_Como você conseguiu me derrubar só tocando minha testa?!
_É impressionante como as pessoas focam em coisas tão banais e esquecem de ver o panorama completo... você ouviu o que eu acabei de te dizer?
_Não, não ouvi nada. Ainda tô tentando entender o que tá acontecendo. Você é algum tipo de feiticeiro?
_O pouco que você me viu fazer, qualquer um é capaz de fazer. Você está aqui para relembrar quem é. Como consequência disso, você também irá parecer um “feiticeiro” aos olhos das outras pessoas. Por hora, quero que você entenda que não houve culpados no que aconteceu com os seus. Aceite isso e sigamos em frente. Temos muito trabalho a fazer._ Terminando de falar isso, Sebastião saiu do quarto e foi até a cozinha pegar uma xícara de café. Ainda no quarto pude vê-lo servindo-se e me olhando convidativamente. Levantei e me juntei a ele na mesa quadrada de madeira, bem rústica. Ele me serviu uma xícara e ofereceu um bolo de tapioca. Na mesa também tinha umas frutas, algumas não pude identificar de imediato, mas eram grandes e vistosas.
_Isso aqui é sapoti_ me mostrou Sebastião segurando uma das frutas. _ Aquela outra ali é ata, também chamada de fruta do conde. São todas aqui do meu quintal. Eu mesmo plantei e cuido.
Dei uma espiada pela janelinha de madeira que tinha na cozinha e pude ver uma horta repleta de legumes, verduras e frutas. Todas muito grandes e bonitas.
_Nossa, você leva jeito pra coisa, hein!
_Não é questão de jeito, é questão de aceitar a realidade e viver de acordo com ela.
_Como assim realidade? O que a realidade tem a ver com planta?_A forma como a pergunta saiu me fez rir. Percebi que desde o acidente essa era a primeira vez que sorria.
_Aceitar que somos cocriadores da realidade. E como tal, moldo a minha realidade de acordo com essa verdade. E na minha realidade, a minha horta é fértil e me dá os frutos e o alimento que necessito.
_Impressionante! Isso que você me falou soou como algumas coisas que estudei na física quântica. Mas nunca imaginei que a coisa pudesse ser aplicada de maneira tão prática.
_A física terrestre está raspando a superfície desta verdade universal. Tenho a esperança de que, num futuro próximo, essa verdade seja lugar comum entre todos.
_Engraçado como você fala. Não parece ser como alguém daqui. Apesar de seu biotipo ser exatamente como o de qualquer ribeirinho que já cruzei. Onde você foi educado, como aprendeu essas coisas?
_Sou nascido e criado aqui mesmo no norte. Sou de outra cidadezinha aqui do Amazonas, vim pra cá porque era aqui que eu deveria estar agora. Como aprendi o que sei?! Apesar de ter estudado em Manaus, aprendi o que realmente importa diretamente da fonte de tudo o que é.
_Deus?! Corta essa!
_Deus é como as pessoas costumam chamá-lo. Todos nós somos Ele, em essência! Alguns dizem que temos a centelha divina. Acredito que isso esteja próximo da verdade. Mas o fato é que ele está em nós assim como estamos nele. Sendo assim, o conhecimento dele pode ser acessado por nós e nossas experiências são acessadas por ele, é uma via de mão dupla.
_Se é assim, por que eu não tenho acesso a este conhecimento?
_Ah, meu amigo, essa é a questão fundamental. A resposta a sua pergunta sintetiza a razão e o propósito de ambos estarmos aqui juntos. Você está aqui para lembrar como acessar esse conhecimento e, a partir daí, cumprir sua sina.
_Você sempre fala em lembrar... isso significa que, em algum momento da vida eu sabia fazer isso?
_Sim. Nesta vida não, mas em outra, bem lá atrás, quando eu e você explorávamos juntos este planeta e nos maravilhamos com suas belezas.
_Preciso tomar um ar, isso é demais pra minha cabeça._ Saí da cozinha ainda comendo uma ata. Não tinha apreciado o gosto do sapoti. Antes de experimentar a ata, já tinha comido a tapioca e uma manga. Fazia tempos que não comia tanto.

Trecho do meu livro  Transcendente -  O Despertar

5 comentários:

  1. Eu realmente queria poder conversar com aquela pessoa q postou o texto falando que ja foi evangélica..

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    1. quem posta todos os textos aqui sou eu, anônimo. meu email é claudiogiovane@gmail.com
      pode entrar em contato comigo por lá.

      Abraços.

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  2. Esse livro é seu Aquele que busca.

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    1. Sim, estou escrevendo um romance que engloba muito do que coloco aqui no blog.

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