terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Apenas humano



Ela apareceu despretensiosamente, sem notar que eu estava ali. Girou ao meu redor por tanto tempo que cheguei a me acostumar com sua presença, antes perturbadora. 

Quando achei que este era o fim da estória, me dera um simples sinal de que me notara. Fiquei intrigado, inicialmente, mas depois bastante empolgado. Retribuí com outro sinal também discreto. Então ela invadiu meu mundo como uma torrente repentina! Inundou tudo, revirou meu interior, sacudiu meu prumo.

Por um tempo fiquei atordoado, sem saber o que fazer. Ao mesmo tempo, estava embevecido naquela sensação de ser cortejado, admirado... ser interessante. Nestes idos anos já havia esquecido esse tipo de sentimento. Me acostumara com a monotonia de uma vida repetitiva e cinza que me fazia definhar pouco a pouco sem saber. Mergulhei de cabeça neste turbilhão a tempos esquecido e senti despertar algo a muito adormecido.

Com o tempo as coisas começaram a ficar empacadas e não progrediam. Eu que antes era cortejado, me via agora correndo atrás de algo que me fazia duvidar se algum dia fora... que para mim tornara-se um devaneio juvenil que me pegara desprevenido e me levara por caminhos de ilusão. E o que antes era gozo, agora era agonia. 

Amaldiçoei o dia em que recebi aquele sinal! Fiquei em um estado de melancolia também a muito esquecido mas que agora não me abandonava... Percebi que este é o resultado da tormenta, da enchente. Pode ser até bonito ver aquele rio invadindo suas ruas, mas no fim, o que sobra é destruição e lixo.

Então me dei conta de que aquilo foi necessário para me acordar da letargia cinza que me consumia. Agora estava doído, mas estava acordado! Atitudes que a princípio tinha tomado para agradá-la, para me fazer melhor a seus olhos, agora serviam para que eu fosse alguém melhor para mim mesmo! 

Hoje as coisas estão bem parecidas ao que eram inicialmente, ela gira no meu entorno, sem quase me notar. Nos cumprimentamos, às vezes, mas sem muito alarde de parte a parte. Estou buscando me acostumar novamente com sua presença e seguir adiante. Por fim agradeço agora o sinal recebido e a sacudida que se sucedeu a isso. Afinal de contas, ela, a paixão, serviu para que eu lembrasse que a vida não é só razão e que as emoções são parte de nosso ser.

Abraço a melancolia, a frustração e todas as emoções que decorrem do meu encontro com a paixão. Sinto-as e lembro que, apesar de possuir a centelha do criador, de ser Ele, em essência, sou apenas humano, no fim das contas.

Um abraço.

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